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  • Luiza Frazão

A DEUSA CELTA NA MULHER PORTUGUESA – VILA NOVA DE GAIA, NOVEMBRO DE 2022

Atualizado: 3 de dez. de 2022

Facilitado por LUIZA FRAZÃO


IMPRESSÕES DE UM FIM-DE-SEMANA DE OUTRO MUNDO



Acabo de chegar do Porto, do meu encontro, A Deusa Celta na Mulher Portuguesa, que aconteceu em Vila Nova de Gaia, na Academia Florescerdoser, e que foi uma experiência que ultrapassou largamente as minhas expectativas. Tinha saído de Óbidos na sexta-feira de manhã e quando cheguei ao Porto as irmãs de Vila Nova de Gaia conduziram-me até Santa Maria da Feira, uma cidade que pertence à área metropolitana da capital do Norte. Fica nas Terras de Santa Maria, e curiosamente nenhuma das capelas ou igrejas aí existentes, segundo nos foi dito, é dedicada a esta denominação da Senhora. No Norte existem outras terras famosas como as de Bouro, ou de Barroso, mas Terras de Santa Maria são nitidamente terras da Grande Deusa celta, Brígida, Brigântia, Brites, Britiande, Brito, Brás e até Iria, que na Irlanda é Erin, Eriu. A minha pesquisa sobre a Deusa em Portugal tem-me largamente comprovado esta ideia de que Santa Maria é a herdeira e o avatar cristão por excelência da Grande Deusa Celta. Ela é Senhora da terra desses, e a bem dizer, de todos os lugares de Portugal.

Entretanto, Santa Maria da Feira tem um castelo e uma festa a 20 de Janeiro, na qual uma procissão de meninas levam à cabeça bolos designados por Fogaças, nome relacionado com o Fogo de Brígida. No topo dessas Fogaças, vemos quatro montinhos representando as quatro torres do castelo de Santa Maria da Feira. Aqui nitidamente, Brígida, ou o Seu aspecto terra, Brigântia, é honrada como a Deusa Menina do Imbolc, continuando embora na Sua função de Deusa protectora e defensora da cidade e da civilização, função esta simbolizada precisamente pela coroa de rainha em forma de torre do castelo que as meninas levam à cabeça. Podemos encontrar este toucado em forma de torre em antigas representações da Deusa Brigântia é até de outras Deusas da Civilização de outras culturas, como Cibele ou mesmo Artemis. Enquanto Menina, esta Deusa é Aquela que traz o Fogo após a noite escura do Inverno, Aquela que traz de volta a esperança, as promessas de que a terra vai acordar do longo tempo de pousio.


Em Santa Maria da Feira, tivemos ocasião de ir lanchar a uma pastelaria conhecida como o Museu da Fogaça, um lugar muito bonito onde havia aliás algumas peças de arte deliciosas evocando estas Fogaceiras do Imbolc. Em seguida visitámos o parque do castelo, muito grande e bonito, onde se podem encontrar aveleiras, o que não é muito fácil em Portugal, pelo menos aqui pelo Centro e Sul. E encontrámos também um majestoso Lódão, devidamente identificado, que nos surpreendeu pela sua beleza, porte e idade.


Jantámos num restaurante à beira do mar de Vila Nova de Gaia, e no dia seguinte acordámos bem cedo para seguirmos até Terras de Barroso. Dos vários lugares que antecipadamente me foi proposto visitarmos, escolhi a famosa Cascata de Pitões das Júnias, que há muito tempo ansiava por conhecer. Um longo passadiço em madeira, facilita o acesso ao lugar e foi muito mágico porque fartámo-nos de descer degraus de escadas por entre a densa mata, não conseguindo evitar o receio do cansaço que representaria a subida, mas surpreendentemente, e todas achámos o mesmo, a subida, como por magia, foi ultrarrápida, não nos custou nada, nada a ver com o extremo cansaço que estávamos a antecipar…


A paisagem é deslumbrante, com águas abundantes correndo pela serra abaixo, e depois o espectáculo impressionante daquela cascata que corre entre pedras, qual vulva da Grande Deusa. Mariette Gomes Capinha, entretanto, usou a sua bússola e qual não foi o nosso espanto ao verificarmos que a direcção onde entre duas enormes formações rochosas escorre todo aquele volume de águas é precisamente o Sudeste, a direcção da Deusa Amante, que na nossa Roda do Ano é Iccona-Loimina. Ali estava diante de nós a Sua vulva com as Suas águas orgásmicas. Durante a descida até ao lugar, tínhamos podido avistar várias pedras com forma de dragões, com um enigmático conjunto de duas cabeças fixando precisamente aquela direcção, o que acrescentou magia e poder àquele sublime lugar de criação da sagrada natureza da Deusa.


Ao regressarmos da nossa caminhada, pudemos ainda visitar um pouco da aldeia, onde uma das irmãs sabia que havia um caminho das Fadas, um percurso maravilhoso que não conseguimos descer até ao final, entretanto, porque já estava a escurecer e nós ainda tínhamos umas duas horas de viagem até Vila Nova de Gaia. Mesmo assim, ainda encontrámos um sofisticado bar celta, o que foi muito curioso e inesperado por se tratar duma aldeia num sítio tão remoto. Apesar disso, ela parece bem viva e animada com recriações históricas célticas, como nos contaram. O caminho que levava ao bosque das Fadas, por exemplo, foi assim batizado numa dessas celebrações da antiga cultura pagã, mas esta designação não parece ter sido escolhida ao acaso mas bem justificada pela sua incrível e intocada beleza.


Voltando ao bar, ou taberna celta, aí encontrámos peças de artesanato da nossa tradição nortenha, como a máscara de madeira e a capa de palha dos caretos, e outros acessórios celtas muito bem elaborados e seleccionados com muito bom gosto e qualidade. Entre estes elementos decorativos, encontrámos uma bela representação duma Deusa, ou Sacerdotisa ou Fada dos Lobos, quiçá a Pieira da nossa tradição, executada por uma pintora local, conhecida como a Sapateira. Depois alguém nos conduziu até sua casa e foi outra agradável surpresa encontrarmos ali, naquele lugar que parece afastado de tudo, uma mulher ainda jovem que tinha sido emigrante em França, muito acolhedora e com uma arte muito bonita e muito condizente com a magia do lugar. Claro que lhe comprámos algumas peças, algumas pedras pintadas com figuras de animais como a coruja – que foi o meu caso. Delicioso encontrar ali tanta cultura e foi bonito sentir como isso acrescenta à alma do lugar.

No regresso, ainda parámos para lanchar na zona do castelo de Montalegre, já o nevoeiro e a escuridão fechando tudo e intensificando a aura mítica do lugar, onde, fiquei a saber, todas as sextas-feiras 13 se fazem fogueiras nas ruas da vila, seguindo um projecto do famoso Padre Fontes, criador do festival pagão de Vilar de Perdizes, que ambiciona resgatar e honrar tradições locais que entretanto se têm perdido.

Chegámos ao Porto à hora do jantar e na manhã seguinte tínhamos o nosso trabalho, o nosso encontro “A Deusa Celta na Mulher Portuguesa” na Academia Florescerdoser, de Mariette Gomes Capinha, lá em Vila Nova de Gaia.


Começámos o nosso terceiro dia saindo de casa cedo para podermos preparar o altar e todo o espaço. O meu trabalho consistiu numa apresentação do Jardim das Hespérides, com as suas Nove Irmãs sagradas, bem como da Deusa Dupla celta, Cale, ou Calaica-Beira, na Sua relação com a Cailleach da Escócia e da Irlanda e com Brígida, Brigântia e Iria, como a Sua contraparte jovem. Começámos por rever a Deusa como divindade honrada nos primórdios da humanidade, visitando a obra de vários autores e autoras que nos mostraram, como a espanhola Angie Simonis, da universidade de Alicante, entre várias outras coisas, o papel de alguns autores masculinos dos séculos XIX e princípio do século XX, no resgate do sagrado feminino cuja falta sentiram na nossa cultura. Falámos depois do início do Movimento da Deusa, das autoras e das obras de cujo impacto surgiu esse movimento, e em seguida falei da minha experiência em Glastonbury, da forma como a minha peregrinação em 2009 a esse lugar sagrado representou uma autêntica revolução, uma descoberta fantástica que me introduziu num novo mundo.


Vimos depois alguns monumentos importantes na cultura portuguesa, vestígios ainda do antigo culto das pedras, resquícios vivos de antigos rituais pagãos, tanto na Escócia quanto entre nós ainda aqui em Portugal. Entrámos seguidamente nos domínios das Nove Irmãs e viajámos por todos os lugares de Portugal onde, até este ponto da minha investigação, já encontrei as Nove Irmãs. Vimos também Calaica-Beira como Deusa Dupla, como Aquela que ficou na nossa cultura simplesmente como a Velha, com a sua contraparte jovem, a Pastorinha, e também como Aquela que podemos encontrar no centro dum grupo de oito ou nove Bruxas assistentes ou ajudantes, muito em conformidade com alguns mitos escoceses. Vimos também vários dos lugares onde em Portugal existem vestígios desses grupos de mulheres míticas, à semelhança das Nove Musas Gregas, lugares como a Serra da Estrela, onde elas estão representadas nas nove capelinhas à volta da famosa pedra da Cabeça da Velha, evocando um culto a Calaica-Beira, com as suas "ajudantes", que na Escócia são conhecidas como The Nine Ice Hag Maidens (as Nove jovens Bruxas do gelo). Finalmente, neste evento de um dia, vimos aspectos relacionados com o Jardim das Hespérides, a origem e significado do mito e a energia das Irmãs das Hespérides.


Após o almoço, aconteceu a nossa longa jornada meditativa por essa dimensão sagrada da Deusa no nosso território, conectando-nos com a energia das Nove Irmãs do Poente, aceitando as propostas e as mensagens de cura e de autoconsciência que recebemos de cada uma delas.

Amei ter viajado com as irmãs e pude mais uma vez sentir como adoro o meu trabalho, como a Deusa me trouxe e me traz tantas bênçãos, alegria, preenchimento, sentido de propósito; como é maravilhoso este caminho de descoberta e resgate da Sua energia; como é gratificante senti-La na natureza e na cultura e conhecer mulheres com uma energia tão bonita e tão entusiasmadas, tão contagiadas por esta missão de trazer mais alma ao mundo, resgatando a cultura da Deusa e os valores da Grande Mãe e Criadora de todas e todos nós. Abençoada!


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